15/09/2025

Setor brasileiro de logística: impactos e oportunidades da IA

Por André Vieira, especialista da DATAFRETE, empresa brasileira que desenvolve soluções digitais para gestão logística

O setor logístico brasileiro vive um momento de inflexão, em meio a custos elevados, margens apertadas e operações cada vez mais complexas. O Panorama dos Custos Logísticos do Brasil de 2024, do Instituto de Logística e Supply Chain, aponta que no ano passado os gastos de transporte no país somaram R$ 940 bilhões, 7% a mais do que em 2023.

Com a pressão pelo controle desses gastos, somadas a margens cada vez menores, a Inteligência Artificial transforma desafios em oportunidades e cria um cenário de controle fundamental para a logística brasileira. Aplicada à gestão, essa tecnologia é capaz de gerar ganhos expressivos em eficiência, segurança e sustentabilidade.

A aplicação de algoritmos de Machine Learning, visão computacional, sensores telemáticos e IA generativa já permite analisar dados em tempo real, prever falhas mecânicas antes que ocorram e otimizar rotas de maneira dinâmica, levando em conta variáveis como clima e trânsito. Mais do que isso, a tecnologia se torna um copiloto para os motoristas, oferecendo alertas sobre fadiga, distração e riscos na estrada, contribuindo para uma condução mais segura e produtiva.

E embora as oportunidades sejam muitas, há ainda um imenso espaço para avanço. Estudos indicam que a IA aplicada na gestão logística, desde a contratação do frete pelo embarcador até toda a gestão da entrega, proporciona reduções importantes: de 10% a 20% nos custos de combustível com a otimização de rotas, cortes de 20% a 30% em reparos com manutenção preditiva e até 40% menos acidentes em frotas que adotaram sistemas de monitoramento inteligente, segundo relatório da Geotab de 2024.

Além da eficiência operacional, a IA também contribui para a agenda de sustentabilidade, ao reduzir emissões por meio de rotas otimizadas, minimizar o desgaste de peças e ampliar o uso de veículos elétricos de maneira inteligente. A criação de gêmeos digitais da cadeia logística, tendência crescente, permitirá simular cenários completos em tempo real, antecipando gargalos e apoiando decisões estratégicas.

E não é apenas na equipe que está, literalmente, na estrada, que as oportunidades existem. Para quem está no escritório, gerindo toda a burocracia que envolve a distribuição logística, a IA traz oportunidades de busca de dados, conferência de documentos, análises otimizadas de parceiros e muitas outras ações que reduzem o tempo de pesquisa. Há, ainda, a melhora da tomada de decisão e ampliação do leque de oportunidades para implantação de ações de redução de custos.

No entanto, a adoção dessas tecnologias enfrenta desafios. A integração com sistemas legados e as preocupações legítimas sobre privacidade e monitoramento excessivo de motoristas, por exemplo, o que exige transparência, regulamentação e soluções que priorizem a anonimização de informações.

Mesmo diante desses obstáculos, os benefícios já demonstrados indicam que a IA não é mais uma promessa distante, mas uma realidade em rápida expansão. Empresas que investirem agora terão a oportunidade de ocupar um espaço estratégico, explorando ao máximo a previsibilidade, a eficiência e a segurança proporcionadas por essa tecnologia. No Brasil, onde a logística ainda enfrenta gargalos históricos de infraestrutura e altos custos, a adoção da IA pode ser um divisor de águas. Para gestores e tomadores de decisão, o momento é de agir com visão de futuro, aproveitando o potencial da tecnologia para transformar desafios em vantagem competitiva.

 

 


Legenda: André Vieira, especialista da DATAFRETE, empresa brasileira que desenvolve soluções digitais para gestão logística
Créditos: Daniel Zimmermann